domingo, 30 de janeiro de 2011

Adeus, Japão

-Que horas são? Oito horas?! Deixei-me dormir! Vou chegar tarde, ao primeiro dia de aulas deste ano!

A porcaria do alarme do telemóvel não tinha tocado! Novas tecnologias nunca se pode contar com elas. Fui de relance para a casa de banho lavei a cara, vesti o uniforme atrapalhadamente, desci as escadas a correr e dirigi-me à cozinha.

-Bom dia Mãe! – peguei num bocado de pão com geleia para comer durante o caminho. - Adeus Mãe!

- Tem um bom dia Sora!

Calcei os patins e lá fui eu estrada fora.

Era Abril*¹, a brisa suave da primavera percorria as ruas do bairro. As cerejeiras tinham as suas flores em botão. As pétalas rosa esbranquiçadas, que se deixavam cair, eram amparadas pela fraca corrente de ar primaveril. Aquele maravilhoso nevão floral tirara-me todas as preocupações, até ter olhado para o relógio.

-Oito e um quarto? Porra!

Enchi a boca com o bocado de pão que restava e comecei a patinar cada vez mais rápido. A estrada estava molhada, tinha estado a chover durante a noite toda, mas não fiz caso e continuei a patinar à mesma velocidade.

Já se conseguia avistar a escola. Cheguei ao portão e sem reparar pus um dos patins numa poça.

-Cuidado!!- berrou alguém. Escorreguei e um rapaz corria para me auxíliar. Cheguei a senti-lo a puxar-me, mas em vão porque naquela altura já estava no chão com a roupa toda encharcada e com sangue a escorrer-me do nariz.

- Vou levar-te à enfermaria! - disse ele. Pegou-me ao colo e encostou-me contra o peito. Durante o caminho, olhei para o rapaz, tinha olhos verdes um longo cabelo loiro e usava óculos que não tiravam de modo algum a sua beleza.

- Chegamos – disse ele pousando-me na marquesa.


- Ao que me parece a menina Sora teve uma ligeira contusão no nariz, basta desinfectar e por um penso que cicatriza num instante! – disse-me a enfermeira.

- Visto que estás bem, vou-me embora. Chamo-me Nagihiko e faço parte do grupo de astronomia. Até outro dia!

Nem tive tempo para me apresentar, ficou sem saber o meu nome. Mas também pouco importava, já sabia onde o encontrar.

Quando saiu não pude de deixar de reparar que um rapaz com cabelo preto o esperava em frente da porta, via-se pela cara que já lá estava há algum tempo. Começaram a murmurar, não consegui perceber do que falavam.

Posto isto já estava na minha hora de almoço, tinha faltado à aula de desenho. Decidi então ir ver o horário do clube astronomia, ao que parecia dava para ir depois das aulas.

“O que é que uma aluna de artes vai fazer para um clube de astronomia? Só se for figura de ursa!”, pensei. Quando cheguei ao local, fui contra a porta.

- Porcaria das portas automáticas! – gritei. – Nunca funcionam bem! Enfim, modernices.

Olhei para a parede vi que afinal havia um botão bastante chamativo a dizer, “carregue aqui para abrir”. Para além de desastrada era vesga, sim porque não ver um botão de um tamanho astronómico e vermelho é bastante mau. Astronómico? Que giro parece que comecei bem, já a entrar no tema do clube e tudo.

Entrei e lá estava o Nagihiko, junto dele estava o rapaz de cabelo escuro.

-Olá! – exclamou ele esboçando um sorriso. - És a rapariga que partiu o nariz, certo? Bem-vinda ao nosso grupo! Este aqui é o Akito.

- Olá…- respondeu ele de forma seca e apática.

Fiquei envergonhada, parecia um tomate de tão vermelha que fiquei, nunca fui de grandes apresentações, não sabia o que dizer.

-O...Olá – gaguejei. – Chamo-me Sora e sou do 12º de artes.

Decerto que devem ter estranhado o porquê de uma aluna de artes estar num clube relacionado com ciências, mas não disseram nada e continuaram com as mesmas expressões. Também que mais podiam dizer? Ao que parecia era a única para além deles que tinha decidido frequentar o clube.

Aos poucos fui entrando mais no tema. O Nagihiko era um doce de pessoa sempre com um sorriso na cara, falava de forma calma e suave e explicava-me tudo ao pormenor, para que não me restasse dúvidas. Já o Akito, continuava a olhar-me de lado, a responder de forma ríspida. Não percebia porquê.


Estava a meio do segundo período, já se tinham passado cerca de 5 meses. Neste tempo todo nunca faltei uma única vez ao clube nem mesmo nas férias do Verão*¹.

Podia dizer que estava uma entendida na matéria. Tão entendida que poderia prever até, se um corpo celestial poderia ou não embater contra o nosso planeta. À medida que o nível de conhecimento foi crescendo o interesse pelo Nagihiko também. Estava mesmo apanhadinha.

Cheguei a casa depois de mais um longo dia de escola, era hora de jantar. Sentei-me à mesa para comer e oiço a noticia no telejornal que o cometa Halley ia passar outra vez pela orbita da Terra, no dia seguinte por volta das dez horas da manhã.

Depois do jantar, decidi verificar o histórico do corpo celeste e descobri que não era suposto passar perto da terra no ano corrente, 2023, mas sim em 2061. Ainda por cima ia estar demasiado perto de nós. Foi aí que me apercebi que se o cometa passasse tão perto da Terra ia ser atraído pelo campo gravitacional desta e por isso ia a haver um embate, não suficientemente grande para destruir toda a terra, apenas para destruir uma parte dela.

Peguei no meu telemóvel touch, entrei na aplicação de cálculos e coordenadas, pus a distância a que o cometa ia passar e ao que parecia ia colidir com o Japão. Toda a comunidade japonesa iria ser dizimada. Fiquei em choque, não queria acreditar que a salvação do Japão dependia de mim, de uma rapariga desajeitada, tímida e para maior parte das pessoas invisível. Tinha decididamente de agir de de imediato de forma persuasiva para que acreditassem em mim.

Fui rapidamente à lista telefónica e procurei o número da JAXA*² e liguei, em vão. Tentei explicar tudo o que tinha descoberto, mas apenas o que disseram foi:

“-Menina, não nos faça perder tempo!” – e desligaram o telefone. As autoridades não acreditaram em mim, só me restava tentar salvar os que mais gostava.

Desci as escadas fui ter com a minha mãe à sala.

-Mãe, faz as malas vamos sair do país!!

- O quê? Estás bem?!

- Estou melhor que bem! Bem não vai ficar o Japão, quando for arrasado pelo cometa Halley!!

-O jantar caiu-te mal ou é o clube que te está a dar a volta à cabeça?


- Acredita no que quiseres – disse enquanto calcei os patins. – Vou avisar o Nagihiko! Quando voltar temos de partir o mais rápido possível!

Saí porta fora à mesma velocidade que no primeiro dia de aulas. Era Outono, já não havia flores de cerejeira em botão, apenas folhas secas caídas no chão das árvores de folha caduca, que compunham uma forte melodia ao serem arrastadas no chão devido ao vento forte. A rua estava alaranjada devido à luz dos candeeiros públicos e quanto mais rápido andava mais sentia o vento a bater-me na cara. A uns metros já se podia ver a casa dele. Toquei à porta.

-Nagihiko! – exclamei, enquanto ele abria a porta. – Temos de sair do país!

-Sora? – disse ele bocejando. – Que fazes aqui a uma hora desta? São quase duas da manhã!

- Temos fugir o cometa vai atingir o Japão e…

-Chega! – vociferou ele interrompendo-me. – Sora… Eu já percebi que estás interessada em mim e se isto é uma tentativa de o tentares mostrar não vale a pena, porque…

-NÃO! – gritei. – O que sinto por ti não tem nada a ver com isto!

-CALA-TE! Ouve-o! – berrou ainda mais alto o Akito aparecendo por de trás da porta.

-O que estava a tentar dizer, Sora é que eu não tenho interesse em raparigas… E eu e o Akito, estamos juntos…

Fiquei estática, nem sabia como reagir, mas ao menos agora percebia metade dos comportamentos do Akito para comigo.

Virei costas e fui para casa. A caminho não pude impedir de que as lágrimas me caissem. Abri a porta de casa e vi a minha mãe com as malas feitas, a primeira coisa que fiz foi abraçá-la e agradecer-lhe por ter acreditado em mim.

-Uma boa mãe acredita sempre nos seus filhos! Além disso não tínhamos nada mais que nos prendesse a este país, estávamos por conta própria – disse ela num tom carinhoso aconchegando-me.

Partimos para o Aeroporto, apanhamos o primeiro voo que nos apareceu, era para Portugal. Quando lá chegamos, por volta das dez horas, no grande ecrã do aeroporto de Lisboa viam-se as catastróficas imagens da destruição do Japão, até parecia um filme de ficção científica.

1 comentário:

  1. OMG! o famoso conto aka dorama sci-fi? 8DDD
    aposto que se fizesses um guião recheadinho, os japoneses ainda te compravam os direitos para produzirem um dorama! (:

    gostei xu *-*

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